terça-feira, 4 de março de 2014

Ferrolhos da Consciência

     

O Morcego


Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vêde:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

     Acho genial este poema e aprecio muito a obra do autor que publicou apenas um livro, EU...
     Foi incompreendido em sua época pela linguagem ácida, estranha de seus poemas e pelos temas mórbidos... O morcego também, por causa de sua figura obscura e pela má fama da espécie citada, o morcego hematófago ou vampiro, odiado pelos fazendeiros...
Infelizmente temos que recorrer a metáforas, dada a limitação da linguagem. O bichinho tem suas qualidades, é um animal interessantíssimo.
     Saiba mais sobre os morcegos hematófagos e como proceder  em caso de acidente, vide http://www.cati.sp.gov.br/Cati/_tecnologias/saude_animal/morc_hemat.php)
     A consciência humana é um regulador individual e social, mas é nula em algumas pessoas? A expressão "não tem sossego quando coloca a cabeça no travesseiro" realmente não vale para alguns, pois se não dormem e se ocupam em fazer o mal o tempo todo! O morcego de Augusto é implacável!Não estranhem a rede, o autor era paraibano...Não sei quais sejam os "ferrolhos" que aprisionam a consciência humana nos dias de hoje. (Elisangela S. Meira)


3 Comentários:

Às 6 de março de 2014 às 16:53 , Blogger Unknown disse...

Com preguiça de desconectar o perfil do Nelson e logar o meu... então cá venho em calças! rss
Eu adoro esse poema, cuja cópia escrita a mão e guardada dentro de um morceguinho em papel camurça tenho desde menina em alguma gaveta no meu quarto. E li esses dias mesmo, enquanto faxinava papéis antigos. puxa... como temos histórias, não!

 
Às 6 de março de 2014 às 17:05 , Blogger aneforcato disse...

E eu luto para nunca ter peso extra no travesseiro, sabe. já sofro de suficiente insônia por meios orgânicos, para desejar me dilacerar emocionalmente também! Contudo a sua questão é envolvente, e olhando em torno, tenho me surpreendido com a lacuna de consciência que vejo nas pessoas "de bem". intolerante, malvado, descrente, preguiçoso e nocivo, assim é o caráter das pessoas. Se pensar nelas, nunca mais durmo! a desgraça generalizada dessa sociedade parece me sugar como pequenos morcegos realmente, em forma de indelicadezas do cotidiano.

 
Às 31 de março de 2014 às 18:13 , Blogger LIZLEE disse...

Por mais que meditemos, é impossível não se indignar com esta barbárie que está por aí...

 

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